A diversidade é interseccional
Fortalecer a cultura inclusiva diminui a exclusão de pessoas de grupos menos favorecidos
A interseccionalidade é a sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação. É a soma de várias formas de opressão, que tratamos como ‘sistema opressor’.
Quando falamos em diversidade, nos ambientes profissional e social, costumamos separar os grupos considerando mais oprimidos no contexto (LGBTQI+, Pessoas com Deficiência, Negros, Gerações, Gênero, Religião, etc). Assim, formamos pilares da diversidade e quando olhamos o ser humano com um todo, percebemos a existência da interseccionalidade, ou seja, uma mulher, pode ser negra, lésbica e ter deficiência.
No momento em que o empoderamento feminino, direitos da mulher, os avanços no mercado de trabalho, vem ganhando destaque, precisamos considerar que hoje, a luta feminina enfrenta três, quatro ou mais características oprimidas, além do fato de ser mulher.
Esse é somente um dos inúmeros exemplos de interseccionalidade.
É sobre essa ótica que as empresas passam a ser desafiadas para pensar em diversidade. Não apenas como uma exigência de lei, mas como uma forma legítima de inclusão de minorias oprimidas em um só indivíduo.
Uma pesquisa recente sobre diversidade nas empresas, realizada pela Talento Incluir em parceria com a Vagas.com apontou que mulheres, negros, pessoas com deficiência e profissionais mais experientes e qualificados foram os mais afetados em processos de recrutamento e seleção.
Desse grupo de candidatos, 50% dos respondentes já se sentiram prejudicados em dinâmicas seletivas. Alguns perfis foram mais lesados, 54% de mulheres, 55% de pessoas negras, 59% de pessoas com deficiência, 64% de pessoas com mais de 55 anos e 59% de pós-graduados.
Portanto, não é mais possível falar em programas de diversidade e inclusão completos sem pensar de que forma atender às especificidades de cada pilar, ao mesmo tempo e com o mesmo respeito. A diversidade além de ser aceita e respeitada, deve ser incentivada.
Fortalecer a cultura inclusiva diminui a exclusão de pessoas de grupos menos favorecidos e o primeiro passo é observar a ausência de representantes dos pilares da diversidade nos ambientes profissionais e sociais.
Sobretudo, a teoria da interseccionalidade aparece com mais clareza quando assumimos o preconceito. Reconhecer os comportamentos pré-estabelecidos ajuda a evitá-los. Após o reconhecimento, buscar informações nos ajudam a formar opiniões mais justas e coerentes. O debate, a mentoria, o diálogo são ricas fontes para buscar e disseminar informações.
Assim, é possível quebrar barreiras atitudinais, inovar, entender que uma característica não pode inferiorizar um indivíduo e ser a soma de várias qualidades nos torna mais plural, criativo e interessante.
Carolina Ignarra — Sócia e fundadora da Talento Incluir, Carolina Ignarra é formada em educação física, pós-graduada em dinâmicas dos grupos e especialista em neuroaprendizagem. Há 18 anos atua em programas de implantação de cultura inclusiva nas organizações e trabalha para a inclusão sócioeconômica de profissionais com deficiência. Carolina Ignarra, é a vencedora do Prêmio Veja-se 2018 – categoria Diversidade – promovido pela revista Veja, da editora Abril, para reconhecer e valorizar histórias de cidadãos excepcionais que se destacaram em 2018, como agentes de mudanças na sociedade brasileira. É palestrante em importantes congressos e eventos sobre inclusão, como: “Encontro de Cidadania Corporativa, da Revista Gestão & RH”; CBTD (Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento); RH Congresso; Fórum Vagas, entre outros. Também é autora dos livros: “INCLUSÃO – Conceitos, histórias e talentos das pessoas com deficiência” e “Maria de Rodas – delícias e desafios na maternidade de mulheres cadeirantes”.