Vem do interior do Piauí uma das mais comoventes histórias de superação e sucesso do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Maria Gabriella Silva Santos, deficiente visual de 18 anos da cidade de Pimenteiras (a cerca de 270 km da capital Teresina), passou em primeiro lugar na cota para candidatos com deficiência para o curso de Direito da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
A conquista recompensa uma jornada difícil enfrentada pela jovem – e sua família – ao longo de sua vida em escolas públicas, como relatou ao portal UOL sua mãe, Joana D’Arc Silva Santos. “Costumo dizer que a maior dificuldade dela não foi a deficiência visual, mas a deficiência das instituições de ensino, que deveriam ser inclusivas”, disse a mulher de 38 anos, lembrando que teve de acionar o Ministério Público para que fosse construída no colégio da filha uma sala especialmente adaptada com recursos para alunos com deficiência visual, como equipamentos de áudio e impressora em braile.
Engajada na luta pelos direitos de Maria Gabriella, Joana D’Arc chegou a dar aula para ela e outra aluna no próprio corredor da instituição enquanto trâmites burocráticos atrasavam o projeto, até que, com verba concedida pela escola, os próprios pai e avô da estudante ergueram o ambiente em 2012.
A mãe de Maria Gabriella frequentemente a acompanhou em sala, auxiliando em seu aprendizado e contribuindo para a qualidade de ensino nas escolas por onde passou. “Sempre procurei estar presente; primeiro, alfabetizando; depois, estava presente na sala de aula e dando suporte necessário e dando dicas aos professores”, destacou.
“Estou muito feliz, mas ao mesmo tempo, preocupada porque vou soltar a mão dela”, revelou Joana D’Arc, sobre a mudança da filha para Teresina, onde irá morar com a irmã para fazer seu curso superior. “Mas foi pra isso que tivemos de enfrentar as dificuldades: para que ela nunca aceite o lugar de vítima, que ela tem total condição de conseguir o espaço dela”, ressaltou.
“Desde sempre tive de lidar com a falta de acessibilidade e a falta de preparação dos professores para lidar com alunos com deficiência”, afirmou Maria Gabriella, cuja rotina em seu ano de preparação incluía quatro horas de estudos e a produção de pelo menos três redações por semana. A pontuação de seu texto no Enem, a propósito, foi de 940.
A jovem enfatizou, contudo, a necessidade de maiores investimentos das autoridades para evitar que deficientes visuais tenham de atravessar os mesmos obstáculos que enfrentou: “Sem uma escola na zona rural não teria conseguido, claro; mas mesmo assim a gente segue carente de recursos e de atenção”.
(com informações do UOL)