Um novo estudo realizado pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard (EUA) indica que a pandemia da Covid-19 deve causar, em média, a perda de praticamente 2 anos (1,94) em expectativa de vida entre a população brasileira, com alguns estados do país registrando um prejuízo de mais de 3 anos. Caso confirmada, trata-se da primeira regressão no índice nacional desde a década de 1940.
Considerando os dados do Ministério da Saúde sobre a mortalidade pelo novo coronavírus no ano passado no Brasil, o trabalho liderado pela demógrafa brasileira Márcia Castro, submetido para publicação na revista MedRxiv, prevê para o Distrito Federal a maior redução na expectativa de vida do país; apesar de ter a maior renda per capita nacional, a unidade federativa deve perder 3,68 anos (de 79,08 anos para 75,40).
As maiores projeções de queda na expectativa de vida, porém, se concentram na região Norte, com as populações de Amapá, Roraima e Amazonas ultrapassando a perda de 3 anos – respectivamente, 3,62 (de 74,88 para 71,26 anos), 3,43 (de 72,69 para 69,26 anos) e 3,28 (de 72,81 para 69,53 anos).
“Os estados do Norte e do Nordeste têm os piores índices de desigualdade de renda, pobreza, acesso à infraestrutura, disponibilidade de médicos e leitos de hospital”, observa o estudo, mas o Nordeste, ao lado do Sul, apresenta as menores estimativas de redução. Segundo a pesquisa, um dos fatores para essa diferença estaria na gestão de estados nordestinos, cujas autoridades “impuseram as medidas mais rigorosas de distanciamento, em oposição direta às recomendações do presidente”.
Ainda assim, há impactos expressivos nas projeções do Nordeste, como aqueles notificados em Sergipe (queda de 2,21 anos), Ceará (2,09) e Pernambuco (2,01).
No Sudeste, o destaque entre as previsões negativas vai para o Espírito Santo (prejuízo de 3,02 anos), seguido por Rio de Janeiro (2,62) e São Paulo (2,17), enquanto Minas Gerais detém a menor redução nacional prevista (1,18 ano, de 78,19 para 77,01). Os três estados do Sul, por sua vez, também têm projeções de perda de expectativa abaixo dos 2 anos.
Entre 1945 e 2020, a taxa de expectativa de vida do brasileiro ao nascer cresceu constantemente de 45,5 anos para 76,6 anos, mas os efeitos da pandemia a farão regredir e, de acordo com o estudo, a queda não será pontual, já que os dados de mortalidade deste ano, não incluídos na pesquisa, refletem um agravamento inédito da pandemia no país. “Já estamos vendo que 2021 vai ser pior que o ano passado. Existem estados que somam mais mortes agora do que ao longo de todo 2020, como Amazonas e Rondônia”, declarou Márcia Castro.
(com informações de Reuters e Estadão Conteúdo)