O governo federal brasileiro, por meio do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, encaminhou à Comissão Permanente da Infância e Juventude (Copeij) um pedido de suspensão da veiculação do filme “Mignonnes”, veiculado no Brasil com o título americano, “Cuties” (“Lindinhas”, em português). A produção estreou no último dia 9 na Netflix e conta a história da personagem Amy, que se rebela contra as tradições conservadoras da família depois de entrar para um grupo de dança.
Dirigido pelo franco-senegalês, o longa tem gerado polêmica em todo o mundo e dividido opiniões a respeito da forma como o tema é abordado, levantando questões a respeito do grau de exposição das atrizes mirins nas cenas.
Segundo informações publicadas pela Agência Brasil, além da suspensão do filme no país, o governo pediu a apuração da responsabilidade pela oferta e distribuição do conteúdo em território nacional.
A Netflix se defendeu. “É um filme premiado e uma história poderosa sobre a pressão que jovens meninas enfrentam nas redes sociais e também da sociedade. Nós encorajaríamos qualquer pessoa que se preocupa com essas questões importantes a assistir ao filme”, afirma a empresa de streaming em nota enviada à Agência Brasil.
O Copeji, um colegiado integrado por procuradores e promotores de Justiça de todos os estados e distrito Federal focado na área de infância e juventude, ainda não se manifestou sobre o pedido.
O filme
Ambientado em Paris, “Cuties” gira em torno de uma família senegalesa que se vê em conflito quando a filha Amy resolve se rebelar contra as tradições e entrar para um grupo de dança com outras meninas da região em que vive. Mas esse é apenas o eixo em torno do qual se desenvolvem outros temas, que têm sido os grandes geradores de polêmica. O filme mergulha sem muitos filtros na vida de Amy e suas amigas, abordando temas capciosos que na vida real costumam ser tabus, como o despertar da sexualidade, a exposição a estereótipos midiáticos, o cyberbullying, o assédio e outros temas.
De um lado, os críticos afirmam que, independente das intenções e da mensagem que tente passar, na prática o filme expõe as atrizes e as sexualiza. “Não há dúvida de que as crianças estão sendo expostas nas redes sociais. Um filme sobre os efeitos de apps como TikTok sobre o desenvolvimento das crianças, especialmente as meninas, seria interessante. Mas esse não é o filme”, diz uma crítica no IMDd, site de resenhas sobre onde, a propósito, “Cuties” está com uma avaliação média 2,6 (numa escala de 10), assim como em vários outros sites do gênero, após uma massiva campanha contrária que tem sido realizada.
Já os defensores afirmam que a produção presta um serviço ao colocar em discussão um assunto tão delicado e que foi tirada de contexto pelos críticos após a publicação do cartaz americano do longa pela Netflix, que é diferente do original e traz as personagens em cena bastante adultizada.
“Esse filme precisa continuar acessível a todos os públicos e alimentar um debate profundo. A controvérsia começou com aquele pôster… O mais importante é assistir ao filme e entender que todos lutamos pela mesma coisa”, disse a ministra da cultura francesa Roselyne Bachelot.