Foi com alegria e esperança que o mundo recebeu nesta terça-feira (1) a notícia de que o Reino Unido vai iniciar a vacinação de sua população com o imunizante da Pfizer/BioNTech. Por outro lado, uma realidade que já era prevista para muitos países, incluindo o Brasil, ficou agora ainda mais evidente: entre a aprovação de uma vacina e vacinação há um longo caminho, bem difícil de percorrer.
Existem vários imunizantes em desenvolvimento, mas o governo brasileiro já adiantou que no máximo 3 deles serão possíveis por aqui, por motivos diversos que vão desde o preço até a estrutura de armazenamento.
Um processo de vacinação envolve várias etapas e é preciso compreendê-las. Pois, no momento, são elas os principais entraves a serem enfrentados pelo Brasil.
Temos acordos com os chineses responsáveis pela Coronavac e com os britânicos de Oxford. Em ambos os casos, o contrato prevê a aquisição de insumos para produção das doses aqui no Brasil, o que reduziria bastante o preço. Mas esse é só o começo:
Seringas e agulhas
Para vacinar 200 milhões de brasileiros vamos precisar de 200 milhões de seringas e agulhas, no mínimo. E não temos isso em estoque nem acordo em andamento para aquisição de um volume tão grande. E com o passar do tempo vai ficar ainda mais difícil, porque a corrida internacional por esses insumos tende a crescer.
Logística
Uma coisa é vacinar uma população ligeiramente maior que a dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, distribuída em uma ilha, como é um caso do Reino Unido. Outra coisa é vacinar um país continental como o Brasil, com populações isoladas ou vivendo em regiões de difícil acesso, com uma malha viária incipiente, sistemas de transporte limitados, poucos centros de distribuição e uma péssima capacidade de armazenamento.
O gargalo do armazenamento
Dentro da logística, o armazenamento das vacinas merece um capítulo à parte. Antes do preço, o primeiro critério que inviabilizou a aquisição da vacina da Pfizer foi a necessidade de armazenas as doses a uma temperatura de -70°. No Brasil, nossos sistemas conseguem, em média, armazenar a -20º. Então, mesmo que déssemos um jeito de pagar pelo imunizante da Pfizer o valor que estima-se ser 5 vezes superior ao da vacina de Oxford, correríamos o risco de estragar tudo por aqui. A propósito, a ineficiência logística já é visível no processo de testagem, como podemos ver nesta matéria da CNN.
Preço
Outro fator que merece um tópico à parte é o preço da vacina. Isso vai ser decisivo e, como já dissemos acima, pesou na rejeição ao imunizante da Pfizer. Nossa economia já não vinha bem, as contas público estão bem abaladas e, com a pandemia, sofreram ainda mais impactos. Com o orçamento já estourado, cada centavo vai fazer diferença num país que precisa vacinar mais de 200 milhões de pessoas.
Incertezas
Além de tudo, tem o fator da incerteza. Os estudos em torno do novo coronavírus e a covid-19 ainda são muito preliminares. Não sabemos ainda, por exemplo, quanto tempo dura a imunidade de quem já foi contaminado e não temos certeza sobre a durabilidade da imunização da vacina. Por isso um risco que está na mesa é: um grande programa de vacinação pode não ser suficiente ou pelo menos não será definitivo. Os cientistas são unânimes em dizer que as vacinas atuais são mais paliativos do que soluções finais, que nos darão tempo até que soluções mais eficientes sejam desenvolvidas.