Depois de 38 anos, o Clube de Regatas Flamengo pode voltar a levantar a taça de campeão da Copa Libertadores da América, principal torneio de futebol do nosso continente. Há grandes chances também de levar o Campeonato Brasileiro, que lidera com folga. Já levou o Carioca. É recordista de público pagante e, consequentemente, tem a maior renda média bruta nos estádios. No segundo jogo da semifinal da Libertadores, contra o Grêmio, além de vencer um gigante como o tricolor gaúcho por 5×0, conseguiu a façanha de colocar quase 70 mil pessoas dentro do estádio, alcançando um faturamento de R$ 8.150.645,00. Afinal, o que explica tudo isso?
A resposta mais fácil é: a combinação entre um técnico excelente com um elenco excepcional. Sim, de fato, o resultado dentro de campo vem daí. Mas, para montar esse time e contratar esse técnico, houve muito o que se fazer nos bastidores. E a Administração vai nos ajudar a entender esse trabalho, bem como seus resultados.
Marca forte: a marca mais amada (e odiada) do Brasil
Parece exagero, mas não é: talvez algumas pessoas não saibam o nome do prefeito de suas cidades, mas certamente conhecem o Flamengo. Muito provavelmente, grande parte da população não sabe quem é o nosso Ministro dos Esportes, mas já ouviu falar em Gabigol. Não foi à toa que a Alemanha escolheu um uniforme rubro-negro para jogar (e vencer!) a Copa do Mundo de 2014. O presidente Jair Bolsonaro, que se declara palmeirense em São Paulo e botafoguense no Rio, presenteou o presidente chinês Xi Jinping com uma camisa do Flamengo. Em muitos estados do Brasil, times da casa ficam em desvantagem nas arquibancadas quando enfrentam o Flamengo. Flamengo, Flamengo, Flamengo, a marca mais onipresente do Brasil, nossa Coca-Cola: amada por muitos, odiada por tantos outros, mas sempre lembrada. Esse é o primeiro trunfo de todos.
Casa arrumada: financeiro sob controle
O Flamengo é aquela companhia gigante, centenária, que depois de inventar seu mercado e dominá-lo por décadas, perdeu o prumo. Embora nunca tenha passado por apuros tão severos quanto os de seus congêneres rivais, como Vasco e Fluminense, entre os anos 1990 e 2000 amargou um hiato de quase 15 anos sem títulos de expressão nacional. Perdeu prestígio e viu o Corinthians ensaiar uma tomada da coroa de time mais amado do país. Mas foi mesmo só um ensaio.
Há mais ou menos 7 anos o clube carioca resolveu levantar da cama e arrumar a casa. Se 2019 promete fechar com festa, foi porque houve muito trabalho para deixar tudo preparado. Hoje, o presidente do clube é Rodolfo Landim, que faz uma gestão assertiva, com investimentos que têm gerado ótimos retornos. Mas o mérito deve ser compartilhado com pelo menos um de seus antecessores: Eduardo Bandeira de Mello, que todos reconhecem como ótimo gestor. Arrumar a casa não foi suficiente para Bandeira de Mello, pois ninguém se segura sem resultado. Mas muito provavelmente Landim não seria tão vitorioso se o antecessor não tivesse pavimentado o caminho.
As finanças saneadas na era de austeridade da gestão anterior engordaram o caixa do Flamengo e deram segurança para o que foi feito ao longo deste ano. O clube vem apresentando superávits desde 2016. Quem conhece o futebol brasileiro sabe que isso é surreal.
É hora de atacar: um pitada de ousadia
Pode procurar na história: não existe crescimento sob um regime estrito de austeridade. O controle é essencial, mas é preciso livrar-se das amarras e arriscar algumas jogadas mais ousadas para crescer de verdade. E é o que o Flamengo de 2019 está fazendo. Que se registre: não estamos colocando Bandeira de Mello simplisticamente como o austero e Landim como o ousado. O primeiro deixou o clube com R$ 100 milhões reservados para investimentos. Como faria, nunca saberemos. O fato é que, olhando para a organização, ela fez. Algo foi feito. E, ao sair da inércia da austeridade, os resultados vieram.
Com dinheiro (muito dinheiro!) no bolso, a atual diretoria foi ao mercado com sangue nos dentes. Nenhuma outra gestão teve tanto dinheiro para investir. E a atual tem usado muito bem esse privilégio. Trouxe Arrascaeta, Bruno Henrique, Rodrigo Caio, Gabigol, Gerson e, claro, o técnico Jorge Jesus.
Aumentar essas despesas não traz de volta o risco da quebradeira? Olhando para o histórico do futebol brasileiro, dá até para pensar nisso. Mas o Flamengo vem num ritmo que permite à direção e aos torcedores não temer esse fantasma. Pense bem: a boa fase tem rendido muito mais em público nos estádio, valorizou o passe para a negociação dos contratos de TV, potencializa o marketing etc. Sem contar com um outro trunfo importante: os jogadores. Com exceção de Gabigol, que é emprestado, os demais pertencem ao clube. Ao final dessa jornada, estarão bastante valorizados, e possíveis vendas (principalmente para a Europa) podem gerar consideráveis euros extras nas contas.
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Cada um no seu quadrado: gestão técnica
Mesmo com a casa arrumada, o Flamengo não conseguiu comemorar grandes títulos ao longo de bons anos. E o motivo, em grande parte, foi a dificuldade de executar corretamente as estratégias específicas das áreas chaves do negócio: contratações e o futebol. Mesmo com dinheiro em caixa, o Flamengo contratou mal. Chegou até a contar com grandes nomes no elenco, mas que acabaram sendo peças soltas no tabuleiro. Em 2019 o jogo mudou, com grande protagonismo do antigo CEO do clube na gestão de Bandeira de Mello, Bruno Spindel, hoje diretor executivo de futebol. Ele foi responsável por várias das negociações do clube no ano. O fato de ter integrado a gestão anterior não foi impeditivo para o atual presidente promovê-lo, demonstrando grande profissionalismo e foco em seu potencial de resultados.
Liderança: a força estranha do “Mister”
O trabalho do técnico português Jorge Jesus é, sem dúvidas, o toque final de todo o esforço flamenguista para 2019. Há muitos técnicos bons comandando clubes brasileiros, mas nenhum com as singularidades do “Mister”, que exerce uma liderança enorme sobre o time sem o paternalismo dos “professores” nem a frieza dos durões que caem depois de dois meses. Jorge é objetivo. Objetivo ao extremo. Depois de vencer o Grêmio e garantir a classificação para a final da Libertadores ficou impassível, já estava retornando para os vestiários quando foi arrastado pelos jogadores para a comemoração. Depois, em entrevista, disse: não há o que comemorar, pois ainda não fomos campeões.
Enfim: façam suas apostas. Nos negócios, o Flamengo já é campeão. Mas nada disso importará se não levar os troféus. Isso é o bom e velho futebol.
Fotos: Alexandre Vidal, Marcelo Cortes & Paula Reis / Comunicação Flamengo