Foi anunciado nesta segunda-feira (11) o fim de uma história de mais de 100 anos entre o Brasil e a Ford. A companhia, que chegou ao Brasil em 1919, decidiu encerrar sua frente de produção de carros no país. Serão mantidas apenas operações de negócios, reposição de peças e suporte a cliente. Cerca de 5 mil postos de trabalho serão fechados na reestruturação na América Latina, que impactará também a Argentina (mas lá as fábricas serão mantidas).
Com o encerramento da produção de carros, a Ford põe fim a uma história que se confunde com o próprio processo de industrialização do Brasil. Hoje no posto de 5ª maior montadora do país, a empresa tem perdido espaço e amarga quedas sucessivas nas vendas. Mas as coisas nem sempre foram assim.
Primeira montadora a se instalar no Brasil
Pioneira na América Latina, a Ford foi a primeira montadora a operar no Brasil. A unidade brasileira foi criada logo depois da argentina, em 1919. Ficava em São Paulo a primeira linha de montagem da empresa, que produziu e comercializou por aqui seu lendário Modelo T.
Primeira fábrica em uma pista de patinação
A Ford começou modesta no Brasil. Inicialmente, era apenas uma sucursal da unidade que já operava na Argentina, onde os carros eram fabricados e exportados para o restante da América do Sul. Em uma antiga pista de patinação na Praça da República, em São Paulo, começa uma operação modesta de montagem de modelos T. Somente depois de alguns anos, com o aumento da demanda, é que a companhia construiu sua primeira grande planta industrial no país, localizada na Rua Solon, no Bom Retiro.
Pequena gigante
Em 1923, ou seja, apenas 4 anos depois de iniciar uma operação modesta com apenas um escritório, a Ford já fabricava quase 5 mil automóveis por ano no Brasil. Parece pouco, mas para a realidade da época era muita coisa. A companhia navegava em um tranquilo e paradisíaco mar azul.
Fordlândia
Em 1927, Henry Ford resolveu dar um passo ousado: construir uma cidade industrial no coração da Amazônia, para garantir o fornecimento de látex para suas fábricas no mundo, reduzindo a dependência da produção vinda da Malásia, na época ainda uma colônia britânica. Mas não deu muito certo: da incompetência agrícola de seus técnicos para o plantio de seringueiras (a árvore que dá o látex) até a incompatibilidade do modelo fordista de produção com a cultura local, tudo foi um desastre. As plantações foram dizimadas por pragas e os trabalhadores viviam em estado permanente de revolta contra os métodos de trabalho e regras com as quais não estavam habituados. Mesmo assim, enquanto viveu, Ford insistiu no projeto, que só foi dissolvido após sua morte. Seu neto, Henry Ford II, então à frente da companhia, fez um acordo com o governo brasileiro e fechou a operação recebendo uma indenização de 250 mil dólares. Em troca, deixou uma série de benfeitorias: escolas, hospitais; sistemas de abastecimento de água, usinas de força, estradas, portos, estação de rádio e telefonia, casas para trabalhadores, galpões, centros de análise de doenças e autópsias, duas unidades de beneficiamento de látex e vários hectares de seringueiras plantadas. Fordlândia ainda existe e é hoje um distrito de Aveiro, município do Pará.
Shopping Center
Não é de hoje que a Ford vem fechando unidades no Brasil. Em 2001, sua fábrica de caminhões que ficava em Vila Prudente, São Paulo/SP, foi encerrada. Em seu lugar existe hoje o Mooca Plaza Shopping. Não por acaso, a avenida que dá acesso ao centro de compras se chama Henry Ford.