Mesmo que não tenha acompanhado o caso, você provavelmente ouviu falar na polêmica envolvendo Camila Queiroz, atriz principal de “Verdades Secretas”, minissérie que se encontra em sua segunda temporada, e a Rede Globo. A lide veio à tona na quarta-feira (17), quando a assessoria de imprensa da emissora divulgou uma nota informando que Camila não fazia mais parte do elenco de “Verdades Secretas 2”, e que cenas da produção seriam adaptadas para a trama seguir após sua saída.
A atriz, ela mesma pega de surpresa com o anúncio, também se manifestou publicamente e explicou que, com o adiamento das gravações em decorrência da pandemia, seu contrato expirou e, para continuar, foram feitas novas exigências – classificadas pela Globo como “demandas contratuais inaceitáveis”, que incluíam a determinação de um desfecho diferente para a personagem de Camila e um acordo de participação numa eventual nova temporada de “Verdades Secretas”.
Entre ditos e não ditos, levantamos os aspectos desse episódio que podem ser analisados à luz da Administração, apontando erros que poderiam ter sido evitados:
1) Nunca comece um projeto sem ter controle sobre tudo que será necessário para terminá-lo
Com toda a sua estrutura empresarial e de produção, como é que a Globo chegou ao ponto de deixar a protagonista da série sem contrato, faltando apenas uns poucos capítulos para serem gravados? A pandemia da Covid-19 nos colocou num patamar de incertezas desde o primeiro trimestre de 2020, de modo que houve tempo o suficiente para tratar dessas questões mais cedo e de maneira mais adequada.
Tentar encaixar o cronograma de produção dentro do prazo, a todo custo, e acreditar que não haverá problemas quanto a isso parece pedantismo, deixando toda a equipe envolvida no processo à mercê da sorte, e não de um planejamento estratégico e adaptável.
2) Por melhor que seja, entenda (e aceite) seu papel
Conheça o seu papel, mergulhe na sua função dentro do todo para que a roda possa continuar a girar. Independentemente da importância de uma personagem (ou profissional, servidor, trabalhador, colaborador, prestador de serviço), quando você assume uma função dentro de uma equipe é preciso estar atento aos seus limites de atuação – algo que parece ter escapado à atriz ao exigir alterações no enredo da produção.
Aqui se compara o roteiro a um projeto; após a aceitação e firmamento do pacto contratual, não há que se pleitear o controle dos rumos. Entenda e aceite o seu papel, sabendo que ele será fundamental no todo.
3) Seja coerente
A cobertura do caso pela imprensa tem sido unânime quanto ao recado que a Globo quer transmitir. Para blogueiros e jornalistas, a emissora não está disposta a ceder ao que denomina “demandas contratuais inaceitáveis” dos artistas.
No entanto, casos recentes e que envolveram investigações internas e externas à empresa, como as graves denúncias de assédio contra os atores José Mayer e Marcius Melhem, resultaram em anúncios de demissão mais discretos e comedidos – o que revela a incoerência do tom mais agressivo adotado pela Globo para o desligamento de Camila.
4) Dedicação exclusiva
Outro ponto que também vale mencionar para o caso é o fato de Camila Queiroz ter participado junto ao marido, o ator Kleber Toledo, da apresentação do reality show “Casamento às Cegas” na Netflix, concorrente da plataforma de streaming Globoplay.
Embora a atriz não tenha quebrado nenhuma cláusula do contrato com a Globo, analistas de portais como o UOL e Metrópoles entendem que esse fato pesou significativamente na forma de agir adotada pela emissora. Um problema que teria sido evitado com uma simples cláusula de exclusividade e remuneração compatível desde o início.